1 – Ensino Acadêmico

1 – Ensino Acadêmico

        Por ensino acadêmico entendemos o ensino de diferentes idiomas, dando maior ênfase ao ensino do português, e o ensino introdutório das ciências. É o que é ensinado nas escolas, públicas ou particulares, cujo funcionamento se restringe apenas a um período de quatro ou cinco horas.
        Para que o ensino seja de boa qualidade e para que o professor possa ministrar suas aulas de maneira satisfatória é importante que em cada classe haja um número mínimo de 16 e um máximo de 25 alunos.

        O método de ensino utilizado na grande maioria das escolas, tendo como alvo mais importante o vestibular, incentiva a competição e não a cooperação entre os alunos, o que os prepara para aceitar as regras de um sistema que privilegia o individualismo, trazendo como conseqüência a exploração do homem pelo homem. Neste sistema os mais espertos, que nem sempre são os mais preparados, nem os mais honestos, são os que conseguem maior sucesso. O educando não se encontra preparado para atuar na sociedade, modificando-a, mas sim para ratificar suas normas, mesmo que estas sejam falhas e, até mesmo perversas.
       Para incentivar a colaboração entre os alunos, foram substituídas as carteiras individuais por mesas com quatro ou cinco lugares e foram formadas equipes, de acordo com a divisão dos alunos nas mesas. Periodicamente, se faz nova distribuição dos alunos na classe para que cada aluno possa trabalhar com o maior número de parceiros possível.
      Com a finalidade de aumentar o interesse dos alunos pelas respectivas matérias, foram criadas para todas elas salas ambientes, nas quais o educador pode tornar o ambiente mais acolhedor e fazer com que a própria sala já introduza o aluno na matéria a ser ministrada, num ambiente diferente das demais. Na sala ambiente torna-se mais fácil e produtivo a utilização de material didático e de recursos áudios-visuais.
       Com a adoção das salas ambiente, na mudança de aula, não é mais o professor que muda de classe, mas sim o aluno.

     

 Gincanas Culturais
     
      Tendo como finalidade incentivar a cooperação e a criatividade são organizadas, bimestralmente, gincanas culturais.
       Os alunos de uma mesma serie, divididos em equipes, participam de diferentes provas com a utilização de desenhos, música, teatro, declamação, experiências de laboratório e outros recursos; sendo uma prova diferente para cada matéria do currículo. Um júri, previamente escolhido, atribuiria um conceito a cada uma das provas; sendo a média obtida atribuída a todos os componentes de cada equipe e para todas as matérias constantes da Gincana. Este conceito é conferido a equipe, por seu desempenho na gincana e não individualmente, assim aprende-se a colaboração e a entre ajuda, pois quando não há cooperação de todos os membros da equipe não se obtem um bom resultado e, todos são prejudicados.

   
 Sistema de Avaliação
     
       No ensino atual, provas e exames determinam se um determinado candidato está apto ou não, o mesmo acontece nos vestibulares. Ora este sistema além de ser insuficiente e falho na avaliação dos alunos, ainda é injusto e pode esconder a desonestidade inerente ao sistema. Então, por que admirarmos termos tantos profissionais despreparados para o exercício da profissão, mesmo entre aqueles que se graduaram com ótimas notas e que freqüentaram escolas conceituadas?
        Com este sistema de avaliação o educando, normalmente, tem facilidades em algumas matérias e dificuldade em outras, o que o leva a se dedicar mais a essas últimas, não sobrando tempo para um estudo mais aprofundado das que tem mais afinidade. Como resultado, não consegue um aprendizado satisfatório em nenhuma: umas pela dificuldade por não ter nem afinidade, nem interesse; outras por não ter tempo suficiente para se dedicar e daí estudar apenas para obter notas nas provas e, não para aprender. Além do mais, o nervosismo e a sorte podem influenciar no resultado das provas; a cola e a decoração, que não passa de uma forma dissimulada de cola, também fazem com que alunos menos preparados consigam melhores resultados do que os mais preparados. 
        .  O ideal seria suprimir as provas e exames, mas como isso é impossível, devem-se dar as mesmas um valor relativo, sendo a nota ou conceito obtido nas provas, apenas um componente da avaliação final, pela qual o aluno seria aprovado ou retido.
            Num sistema de avaliação holístico, ao conceito obtido na gincana cultural, somar-se-ia o conceito do professor, sendo que este deveria considerar três itens:
    1 – presença e comportamento;
    2 – interesse e participação;
    3 – aproveitamento – (resultado das provas).
           Neste sistema, quando um aluno que corresponda nos dois primeiros aspectos, mas não consiga bom resultado no terceiro, é por uma deficiência pessoal e não por falta de vontade, assim não merece ser reprovado, podendo dedicar mais tempo às matérias para as quais tiver mais inclinação. 
           Com relação às atividades de outras áreas de ensino, a avaliação deverá levar em consideração apenas o conceito do professor, sem considerar a gincana. No item três, as provas seriam substituídas por outras formas de avaliação, mais de acordo com cada atividade. Nas áreas artística e esportiva, por exemplo, as conquistas seriam premiadas ou com o aplauso ou com as medalhas e troféus, não com melhores notas: o aproveitamento seria considerado apenas levando-se em conta a auto-superação, não o fato de se obter melhores resultados do que os outros.

Liberdade e Disciplina

      A falta de disciplina não é característica da liberdade, ao contrario ela leva a anarquia, a libertinagem e à escravidão dos vícios, que é a pior das escravidões.
      Visando a libertação do homem a disciplina é essencial para que este adquira valores essenciais, não só para seu próprio crescimento, mas também para sua adaptação à vida em sociedade. A verdadeira Liberdade deve ser conquistada com muita luta e trabalho, nunca concedida graciosamente, pois se assim for não se aprenderá a utilizá-la com amor e com justiça.
      Partindo desse princípio no Educandário Santo Antônio, a disciplina era exigida em todas as atividades. Prêmios e castigos eram utilizados, não como objetivos, mas como instrumentos auxiliares para se conseguir o desabrochar da personalidade dos alunos. É importante frisar que tanto prêmios como castigos, devem ser conferidos com amor e com justiça; nunca com intuito de vingança ou de protecionismo.
       Levando-se em consideração que os alunos do Educandário, provinham de famílias pobres e, precisariam trabalhar para ajudar a família ao atingirem a adolescência e assim deveriam parar de estudar, foi instituído um sistema de bolsas para todos os alunos do 2º grau que obtivessem média acima de 7(sete) computando-se todas as matérias e, não tivessem sido reprovados em nenhuma delas. Esta bolsa variava de acordo com o resultado final obtido em cada bimestre e, seria concedida nos dois meses do bimestre seguinte.
      Este sistema de bolsas tinha como vantagem, o estimular o aluno para o estudo e a auto superação, evitando a concorrência, pois não eram os melhores que ganhavam bolsas, mas todos que atingissem determinada média. Para os alunos de primeiro grau, passeios e outros prêmios eram conferidos aos que se destacavam.
       Entre os prêmios e os castigos, a importância maior era sempre conferida aos prêmios, nunca deveriam ser esquecidos; quanto aos castigos deveriam ser esquecidos e nunca serem relembrados. Não se deve lembrar as pessoas dos seus fracassos, mas sim de seus sucessos. 

      A Proposta Pedagógica do Educandário Santo Antônio:Uma visão histórica da sua construção, e as implicações educacionais como um novo paradigma de Educação..

         Diante da necessidade de resgatar aspectos da história e memória de uma experiência educacional, nos anos de 1894 a 1995, desenvolvida por frei Eduardo Chagas Nithack, no Educandário Santo Antônio, trazendo as trilhas de sua trajetória, fui tomada por sentimentos e convicções acerca da legitimidade e originalidade dessa proposta, uma vez que dela participei nos anos 90 como orientadora educacional e pude constatar que essa proposta foi tecida por intuições pedagógicas de seu autor, trazendo no seu bojo uma visão holística de educação, apontando assim, para um novo paradigma de educação.
        A visão do mundo e de educação trazida por este educador franciscano, e os fundamentos que ele utilizou para a compreensão e explicação dessa educação, irão influenciar a maneira como propõe sua pedagogia, ou seja, os pressupostos que orientam seu pensamento vão nortear sua abordagem de uma educação concretizada em princípios franciscanos humanizantes, nos tempos de uma sociedade neoliberal, marcada pelo individualismo, pela falta de diálogo, e pelas relações de injustiças sociais.
        Dessa forma, tocar na elaboração de uma proposta de educação que atenda esses apelos, com o desafio de responder às demanda que os contextos lhe colocam, constitui uma grande tarefa.
       Diante de um Brasil, caracterizado por séculos de autoritarismo e exclusão, relegando grande parte da população à instabilidade ou à miséria permanente, sabedor que é o autor da referida proposta, que a educação retrata e reproduz a sociedade, mas também projeta a sociedade que se quer, em favor de vida plena para todos, constitui para mim uma responsabilidade que denominaria de compromisso social, caracterizá-la mostrando a consistência dos seus valores, a dimensão de seu conteúdo ideológico e sobretudo, o seu nível de aplicabilidade.
     Esse compromisso que denomino social, está ligado à minha atuação hoje, como educadora envolvida na formação de professores. Portanto, anunciar, resgatar e registrar essa experiência educacional  foi e continua sendo para mim,um sinal de esperança, mostrando a possibilidade histórica de se criar práticas emancipatórias de educação, engajadas na luta a serviço de um projeto de sociedade, que visa uma ação transformadora, dando ao mundo, um novo rosto, um rosto fraterno.
      Para tanto, diante dessa proposta, levanto aqui as seguintes indagações: Que educação que desejamos para nossos filhos e netos? Uma educação que tenta ¨acompanhar¨ a revolução das tecnologias da informação? Como desenvolver autonomia, cooperação, criticidade e diálogo, como diz o autor da proposta: “Propiciando ao educando sua auto-realização, não apenas pessoal, mas também social..” É dessa forma que estaremos preparando as futuras gerações para valores impulsionam o desenvolvimento do ser humano, de suas potencialidades e capacidades, respeitando sua dignidade, seu projeto histórico e sua plena realização como pessoa concreta?
      A partir das indagações acima levantadas, diante da necessidade de especificar a natureza dessa proposta, e preocupada em delinear o percurso metodológico da mesma, busco contextualizar essa proposta de educação como um novo paradigma de educação, emergente nos anos de 1980 e 1990, Que reconhece a educação como um sistema aberto, uma concepção de ser humano na sua multidimensionalidade, como um indivíduo dotado de múltiplas inteligências, com diferentes estilos cognitivos.    
           Nesse sentido, a denominação da proposta como sendo um novo paradigma da educação,¹ trata-se do distanciamento do modelo vigente predominante de educação na sociedade contemporânea, fundamentalmente no que se refere à elaboração do currículo. Trata-se também de denominar como proposta pedagógica, uma vez que se caracteriza como uma carta de intenções declarada, um “Projeto de Educação”, sonhado pelo seu autor, realizável e realizado e que permanece até os dias de hoje como referência no Educandário Santo Antônio.
        Paulo Freire, em 1993, questionado sobre o tema do sonho, da utopia e da esperança em Educação afirmou que, “não seria possível,tanto no plano individual, como no coletivo, escapar do sonho como projeto... Todo o projeto, portanto, uma tomada de posição diante da realidade natural, social e humana... O projeto ao propor uma realidade, sempre se põe a favor contra algo existente com base em alguma verificação da realidade vigente, que desafia o ser humano”.
       O que caracteriza a Proposta Pedagógica do Educandário, com um Projeto de Educação nesse período, como sendo diferenciada, constituindo uma referência, um modelo, como na concepção atual, um paradigma, é a sua caracterização por áreas de ensino, pois afirma o autor que o ensino para ser criativo e libertador, devemos atuar em seis áreas de ensino, ² que se completam entre si, com um sistema de avaliação holístico. ³
     Para entendermos a consistência da proposta se faz necessário retomarmos a origem etimológica da palavra currículo. Segundo SACRISTÁN (1998), o termo currículo provém da palavra latina currere, que se refere à carreira, a um percurso que deve ser realizado e por derivação, a sua representação ou apresentação. A escolaridade é um percurso para alunos/as, e o currículo é seu recheio, seu conteúdo, o guia de seu progresso pela escolaridade*.
       Dessa maneira, nos mostra que, parte das idéias de currículo está em circulação, há várias décadas e, em um determinado momento histórico, uma determinada proposta ganha prestígio em função de vários fatores. Por exemplo, se um grupo que compartilha idéias comuns consegue uma posição de poder, como um cargo público de prestígio no campo educacional, isso favorecerá a difusão da proposta de currículo que defende, tornando-a uma proposta plausível.                
       Partindo dessas considerações, entendo ser pertinente trazer o contexto das reformas curriculares das décadas 80 e 90 do século XX, a fim de comparar, explicar, contextualizar, as reformas curriculares geradas neste período histórico, na tentativa de compreender as tendências atuais do currículo do ensino fundamental no Brasil, uma vez que o enfoque da proposta curricular aqui tratada por seu autor, aponta perspectivas históricas de currículo a favor das classes populares, que foi implementada, sem interresse político e ideológico de manter o “status quo” do poder dominante, o que não ocorreu com as propostas emergentes nesse período histórico.
      Nesse sentido podemos afirmar que, o autor da proposta aqui trazida em questão, tem a clareza de que: “os princípios ordenadores do currículo estão fortemente ancorados em problemáticas da sociedade contemporânea, como a construção da identidade, as relações sociais geradas no e pelo trabalho, a valorização deste, a preservação do meio ambiente e da saúde, o conhecimento e o respeito à diversidade das expressões culturais e a condenação de quaisquer formas de discriminação”(BARRETO,2001)
      Com esse propósito, o currículo era composto por seis áreas de ensino, com atividades integradas entre si, (acadêmica, atividades agrícolas, atividades manuais, arte e criatividade, esporte e lazer, orientação moral e religiosa), que caracterizavam o ensino e a pedagogia criativa e libertadora do Educandário Santo Antônio.
        Os resultados alcançados com a aplicação desse currículo para as crianças e adolescentes nesse período foi de grande relevância histórica. A maioria dos alunos se destacou em várias áreas do ensino, muitos chegando até a Universidade: no esporte com projeção internacional, na música, na arte, no teatro, na tecnologia, na educação e sobretudo como cidadãos e cidadãs, homens e mulheres firmados em valores não efêmeros, construtores de uma sociedade mais humana e mais fraterna.
                                                                                 Siumara da Silveira Melo Quintella

¹ O conceito de paradigma na visão de Edgar Morim (1990), citado por Moraes (1997), significa umtipo de relação muito forte, que pode ser de conjunção ou disjunção, que possui uma natureza lógica entre um conjunto de conceitos-mestres. Paradigma se refere a modelo, padrões compartilhados, que permitem a explicação de certos aspectos da realidade.
Utilizo também aqui os conceitos de “Proposta Pedagógica e Projeto de Educação”, no sentido de caracterizar uma dimensão política, social, ideológica e cristã, para as idéias de educação de frei Eduardo Chagas Nithack, ofm.     
²As considerações do autor da proposta, sobre o currículo compreendido em seis áreas de ensino, está contido nesta obra na explicitação sobre sua visão holística da educação.
³A concepção de sistema de avaliação holístico do autor da proposta acima referida, também está contido nesta obra.
*Esse conceito etimológico de currículo citado por Sacristan se refere as citações de (Hamilton e Gibson,1980. Citado por Goodson, 1989, p.13).

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