ANEXO 2.1 – Algumas experiências de Educação Criativa e Libertadora inspiradas no Educandário Santo Antonio de Bebedouro (ESAB)
Arte e Solidariedade
O amor, a esperança, a felicidade, o sonho, e a oportunidade a educação
e a por oportunidade vieram ao meu encontro e ao encontro de meus irmãos e de
tantas outras crianças de minha época. Nasci em São Paulo, grande cidade que
trouxe muita infelicidade para mim e para minha família. Sou filha de Maria das
Graças e Luiz Carlos, ambos dependentes do álcool. Nossas vidas foram muito
difíceis: sou a primeira filha do casamento de meus pais, depois vieram meus
dois irmãos, minha mãe tinha epilepsia e já tinha sido desenganada pelos
médicos por muitas vezes. Aqueles momentos foram muito difíceis para meus
irmãos e, principalmente, para mim, que além de presenciar todos os problemas,
tinha que presenciar as brigas e desentendimento de nossos pais. Foram
marcantes em nossas vidas. Foram momentos horríveis para. nós. Enfim, minha
vida não foi tão fácil, em meio a tantos acontecimento, o maior estava ainda
por vir: fomos arrancados de minha mãe pela justiça sem ao menos entendermos o
que estava acontecendo.
Passamos a morar com minha avó paterna. No começo foi muito difícil para
os meus irmãos e eu, pois não tínhamos antes contato com a família de meu pai,
chorávamos e chamávamos por minha mãe. Depois que minha mãe perdeu-nos na
Justiça, ela ficou muito tempo sem nos procurar. Nesse tempo, então, fomos
matriculados na melhor escola da cidade - “Educandário Santo Antônio” de
Bebedouro -, que me recebeu de braços abertos e que me deu tudo aquilo que eu
mais precisava no momento, educação, carinho, atenção, afeto, e o principal.
oportunidade, que acreditou em mim, no meu potencial é me mostrou que eu era importante
para mim e para a sociedade.
Muitas coisas aconteceram na minha infância. Depois de muito tempo,
minha mãe voltou a nos visitar, e entre as visitas algumas vezes ela nos
roubava, e logo o oficial da Justiça ia nos buscar em São Paulo. Nestas
visitas de minha mãe sempre aconteciam brigas, e Isso para nós era muito
triste, pois a mãe nunca estava, e nós esperávamos muito por ela, é quando ela
chegava, as nossas famílias não conseguiam se entender com ela, era
só briga. “violência”, depois que meu pai se separou da minha mãe ele foi
amasiado por 7 vezes, eu nunca consegui superar a separação de meus pais e por
este motivo nunca morei com meu pai e suas mulheres.
Quando meus irmãos tinham 9 e 10 anos, fugiram de Bebedouro e foram
morar com minha mãe, com 13 anos. O caçula foi preso na Febem, foi muito triste
para mim, principalmente porque eu não podia fazer nada para ajudá-lo. Comecei
então a me envolver com tudo que o Educandário me oferecia, no esporte, na
cultura estava indo muito bem na escola. Não conseguia mais ficar sem meu lar
Educandário, eu passava a maior parte do tempo lá, minha avó era analfabeta.
Me lembro como se fosse hoje: tinha a nossa saudosa diretora Edna, que
foi para mim um espelho, ela eu Frei Eduardo, ela por muitas vezes era quem
renovava a minha matrícula, enfim, o Educandário passou a ser a coisa mais
importante para minha vida. Teve um fato que me marcou muito, foi quando minha
mãe passou os anos sem nos ver e quando ela veio, foi até o Educandário e nós
nos cruzamos e não nos reconhecemos. Foi um momento muito triste para mim e
para os professores que presenciaram a cena. Passamos por muitas dificuldades ,
Mas, o que me dava forças para continuar e muita esperança eram os amigos que
conquistei, os professores, direção, além das atividades na qual eu
participava, fazia parte da equipe de atletismo, vôlei, basquete e handbol.
Tive grande apoio do professor Robison, e me destaquei no grupo de teatro da
escola, viajei bastante representando o Educandário.
Vivi ali um dos melhores momentos de minha vida, cresci e fui me
tornando um ser humano cheio de esperança e ideais. Me tornei alguém feliz.
Cresci Cristã e ali aprendi valores e conceitos que trago até hoje em
minha vida. Tive a oportunidade de concluir o segundo grau, e fui para São
Paulo, com o apoio do Educandário, e de todos os professores que lá estiveram.
Agradeço a Deus por ter colocado pessoas maravilhosas em minha
vida.Cursei um ano e meio de artes cênicas em São Paulo, e logo após, voltei
para Bebedouro, onde tempos depois casei-me, constituir família, e o destino me
prega outra peça: perdi meu irmão caçula pro mundo das drogas. Mataram meu
cápsula com apenas 17 anos de idade, e logo após, o meu irmão mais velho foi
preso, há quase sete anos ele perdeu a liberdade por ter envolvido também com
drogas.
Sou funcionária Pública Municipal. concursada. há quase 10 anos.
Estudei, formei-me professora de Educação Infantil. Hoje tenho dois lindos
filhos, Bruno Marcelo e Vitória Carolina, e há quase cinco anos percebi que
tinha que retribuir a oportunidade que a vida me oferece. Graças ao
Educandário, Então resolvi montar um projeto (o Artsol). Ele é resultado de
tudo que aprendi no Educandário, sou apenas uma multiplicadora do que eu vivi,
sou feliz por ter feito parte dessa linda história. Gostaria de aproveitar o
espaço para agradecer a Deus e às pessoas que muitos fizeram, não só para mim.
mas também para muitas outras crianças e outros jovens que passaram por ali.
“Prof. Edna eu Frei Eduardo e todos os professores e funcionários da minha
época, que Deus abençoe a todos vocês.”
O ARTSOL é uma organização educacional, cultural e social, sem fins
lucrativos, que atende gratuitamente 270 crianças e adolescentes, de 3 a 18
anos, de famílias de baixa renda da cidade de Bebedouro. Propõe um
trabalho voltado à prevenção a situações de riscos pessoais e sociais, através
da cultura, educação é entretenimento, contribuindo na construção de valores
éticos e morais, envolvidos em atividades saudáveis. também realiza um trabalho
de orientação e apoio às famílias de seus atendidos visando ao fortalecimento
dos vínculos familiares e comunitários e colabora para ampliar oportunidades de
ocupação e renda, oferecendo atividades profissionalizantes.
Os recursos são oriundos de parcerias, das contribuições mensais de
associados, da comunidade, dos patrocínios de empresas, bem como das
apresentações e eventos beneficentes. O ARTSOL foi criado no dia 6 de junho de
2003, fruto do sonho de um grupo de voluntários e educadores do Centro
Municipal de Educação Infantil “Arnaldo de Rossis Garrido”, localizado no
Jardim Alvorada em Bebedouro. Seu nome é união entre “Arte” e “Solidariedade”,
componentes sociais capazes de formar uma sociedade mais justa.O ARTSOL Surgiu
da necessidade de divulgar a arte e cultura nas comunidades menos favorecidas,
como é o bairro em que se localiza, onde há um alto índice de vulnerabilidade
social.
O ARTSOL já surgiu com duas peças teatrais: “As Aventuras de
Pituchinha”, peça infantil e ” A Bruxinha Que Era Boa”, de Maria Clara Machado,
peça infanto-juvenil. As peças foram apresentadas para um público de mais de
10.000 pessoas abrangendo todas as faixas etárias. O Grupo de teatro foi
crescendo atendendo a um número cada vez maior de crianças e adolescentes
apenas aos finais de semana. Em meados de 2004, o grupo Artesol
lançoul novos projetos, ampliando suas atividades, atendendo a um número
maior de pessoas e desenvolvendo atividades diversificadas. Dentre as quais
aulas de música, ballet clássico, artesanato, artes plásticas, dança de rua,
axé, capacitação profissional, além de palestras direcionadas às famílias dos
atendidos. trabalho realizado por voluntários, todos esses ensaios álcool
aconteciam aos sábados, na creche do bairro, espaço cedido pelo departamento
Municipal de Educação e Cultura.
No mês de outubro de 2006, o Artsol conquistou a sede própria,
proporcionando uma qualidade maior no atendimento para os assistidos e maior
autonomia. A mudança para o novo imóvel alugado deve-se á
necessidade que a entidade possuía para realizar atividades em período
integral com crianças jovens e familiares da comunidade.
Simone Cristina Paula de
Alencar Inácio, fundadora da ONG Artsol
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