Introdução

Introdução

     

        Em 15 de junho de 1974 assumi, pela primeira vez, a presidência do Educandário Santo Antonio de Bebedouro, onde permaneci até 30 de janeiro de 1979. O Educandário funcionava em regime de internato para menores excepcionais recuperáveis. Sendo que os educandos vinham em sua grande maioria de outras cidades, através de convênio com a Febem, com sessenta vagas disponíveis. A grande mudança neste período foi a transformação do internato em semi-internato, sendo que os internos foram transferidos para outras entidades congêneres ou enviados para suas famílias. O número de vagas aumentou inicialmente para 150 e depois, gradativamente, até alcançar o total de 500 vagas.

      Em 2 de janeiro de 1981 retornei ao Educandário e, reassumi a presidência, função que exerci até 30 de janeiro de 1995. Ao retornar quis responder a dois desafios, que eu mesmo me propusera: 1° - Muito se criticava sobre as deficiências do sistema de ensino oficial, era preciso encontrar alternativas; 2° - As crianças e adolescentes das classes pobres seriam menos capazes do que as das classes média e rica? Eu acreditava que não, bastaria dar-lhes condições que seu rendimento escolar seria igual a das outras classes, era preciso provar.

      Inicialmente as nossas crianças, todas provenientes da periferia e de baixo padrão econômico, freqüentavam escolas estaduais próximas ao Educandário num período e, no outro recebiam aulas complementares (marcenaria, bordado, horta, esportes, lazer, entre outras), mas, o confronto de objetivos entre a escola e o Educandário dificultava o nosso trabalho. Enquanto o ensino oficial focalizava apenas o desenvolvimento da memória e da inteligência, através de um ensino acadêmico, nós julgávamos ser necessário o ensino de outras atividades para que se pudesse suprir o mais completamente possível as necessidades do aluno, tornando mais fácil sua auto realização. Fazia-se necessário termos uma escola de primeiro e segundo grau no próprio Educandário, o que conseguimos com o apoio do deputado Vagner Rossi e nossa escola começou a funcionar em 1984, primeiramente com as quatro primeiras séries do primeiro grau, depois com a quinta e a sexta série e assim gradativamente, até conseguirmos instalar todas as séries do primeiro e do segundo grau.

       Para realizarmos, eu e meus colaboradores,  nosso objetivo adotamos o método dialético-reflexivo, pelo qual colocaríamos em prática nossas idéias e, após refletirmos sobre a experiência, modificaríamos o que fosse necessário e aplicaríamos estas mudanças, para em seguida, voltar à reflexão para novas mudanças que visavam o aprimoramento de nossa proposta educacional. Esse dinamismo que leva da experiência a reflexão e, desta novamente à experiência, permite realizarmos uma proposta educacional aberta que permita adaptações e aprimoramento sempre que novas situações o exijam.    

       Inicialmente foi necessário conhecermos as condições do espaço e as instalações existentes onde iríamos trabalhar. O Educandário estava situado em terreno amplo, o que nos permitiu, por exemplo, escolher entre nossas prioridades o ensino de práticas agrícolas. As instalações eram satisfatórias em quanto nossas crianças freqüentavam outras escolas para o ensino acadêmico e recebiam no Educandário apenas as atividades complementares; mas, ao instalarmos uma escola própria de 1° e 2° grau tornou-se necessário a construção de novas instalações, assim foram construídos prédios para abrigarem o pré-primário, classes para as aulas acadêmicas (português, matemática, história, geografia e outras), a enfermaria, e as instalações esportivas.

        Não só o espaço, mas também, o fato de funcionarmos em período de semi-internato, nos foi favorável para a elaboração de nosso projeto educacional. Limitar-se o período escolar a quatro ou cinco horas parece-nos insuficientes. Em outras escolas e entidades, nas quais se desejar aplicar projeto semelhante faz-se necessário as adaptações que respeitem as condições de espaço com suas instalações e do tempo de permanência dos alunos no estabelecimento.

         Lembramos que nossa experiência educacional aconteceu entre o início das atividades

da escola implantada no Educandário em 1984 até 30 de janeiro de 1995, data em que se encerrou minha gestão no mesmo. Após este período, outras pessoas assumiram a diretoria do Educandário, novas mudanças foram feitas, mas cabe aos novos diretores relatá-las, se entenderem ser necessário e oportuno sua publicação.